segunda-feira, 9 de março de 2020

O BRASIL VAI PAGAR A CONTA DA CRISE?



* PLANEJAMENTO E PLANIFICAÇÃO PARA SUPERAR A CRISE

* O MODELO CHINÊS E O BRASIL DA DITADURA MILITAR

* O G7 VAI GASTAR MAIS DINHEIRO PÚBLICO, ADIVINHEM QUEM VAI PAGAR A CONTA

Por Wladmir Coelho

1 – A queda no valor do petróleo representa um terrível sinal; a produção mundial está em crise. Vamos aos fatos: o petróleo encontra-se na base da produção apresentando-se como matéria-prima e elemento essencial para a distribuição da mercadoria depois de convertido nos múltiplos combustíveis. Sua condição estratégica apresenta-se ainda na forma de insumos para todos os segmentos produtivos passando pelo setor têxtil, alimentar, automobilístico, eletrônico.

2 – Desde o início do século 20 a produção petrolífera apresenta-se concentrada em indústrias das potências imperialistas notadamente os Estados Unidos e Inglaterra ficando o primeiro com a maior parte possuindo, desta forma, um imenso poder com relação a distribuição do petróleo e por consequência controlando o processo de industrialização mundial.

3 – Em nossos dias China e Estados Unidos disputam o título de maior consumidor de petróleo mundial o primeiro concentrando a produção industrial mundial representando um elo importante entre a produção tecnológica estadunidense e europeia através da aplicação desta em comunicação, aparelhos eletrônicos, automóveis, medicamentos dentre outros enquanto os Estados Unidos o maior consumidor encontra-se nas forças militares internas e aquelas espalhadas mundo afora.

4 – Curiosamente nos dois casos vamos observar um elemento comum, ou seja, a presença do Estado tenha este a condição de elemento centralizador do planejamento econômico, no caso chinês, ou simplesmente o protetor do capital nacional através do consumo de petróleo, incentivo a pesquisa e produção tecnológica militar ou mesmo transformando-se no maior empregador individual do mundo notadamente no setor de defesa. Para entender a condição imperial dos Estados Unidos basta verificar a associação entre do poder econômico com a força do canhão.

5 –Devemos neste ponto observar a evidente divisão do planeta entre produtores de tecnologia e aqueles responsáveis pela aplicação desta ficando do lado de fora – inclusive – a nossa região do planeta. Fora, mas do processo produtivo em sua totalidade? Lógico que não.

6 – Para o Brasil, neste contexto, ficou a condição de fornecedor de matéria-prima notadamente o minério de ferro surgindo nos últimos anos um novo produto, o petróleo, confirmando a nossa elite econômica colonizada e preguiçosa a tradição da qual não conseguimos ainda sair apesar de esforços aqui e ali.

7 – A situação dos chineses, em princípio, também implica em aceitação do modelo econômico segundo os interesses imperiais, afinal reúne em seu território a montagem e não a criação e a pesquisa tecnológica esta sim responsável pela emancipação nacional. Devemos, todavia, observar com maior atenção a estratégia chinesa implicando esta não uma submissão aos interesses do capital, mas um planejamento apontando a superação de etapas incluindo a pesquisa e produção tecnológica.

8 – Durante a ditadura militar o Brasil experimentou um processo com alguns pontos semelhantes ao chinês a ponto de muitos acreditarem no delírio de uma potência imperial a surgir na América do Sul a realidade, contudo, cobrou o seu preço. A política do imperialismo auriverde da ditadura amparou-se na dependência do capital externo, notadamente aquele dos empréstimos, desnacionalizando setores chave como o farmacêutico e criando facilidades aos tubarões do petróleo através do contrato de risco e internacionalização da Petrobras.

9 – Em termos práticos a ditadura militar planejou e planificou uma economia voltada a instalação de empresas multinacionais e proteção destas contra as iniciativas nacionais aprofundando a dependência econômica.

10 – Esta diferença entre o modelo chinês e o brasileiro da ditadura militar será aprofundada a partir dos anos 1990 quando a proteção ao capital nacional de alguma forma presente na Constituição de 1988 deixa de existir através das privatizações processo aprofundado pela insanidade do governo atual.

11 – A crise de 2008 revelou ao mundo o quanto o Estado ainda encontrava-se vivo e foi o responsável pela sobrevivência, inclusive, da General Motors e tradicionais estabelecimentos bancários – isso na sede do império – enquanto a China movimentava todo o sistema produtivo nacional criando demanda e desta a compra de minério de ferro, petróleo e tecnologia criando aqui um período de alivio.

12 – Temos atualmente uma nova crise curiosamente detonada – veja bem detonada e não causada - a partir de um vírus com poder de matar com epicentro exatamente no centro fabril mundial implicando na paralisação da produção e por consequência travando o consumo de tecnologia, matéria-prima e naturalmente prejudicando o consumo interno.

13 – Em tempos de lucratividade baixa e lucros fictícios decorrentes da especulação pura e simples nas bolsas de valores qualquer queda nos valores da produção significa redução ainda maior dos valores disponíveis para a recompra das ações gerando o quadro de desespero verificado nos principais centros financeiros. A crise capitalista vai gerar como resposta a necessidade do sistema destruir o excesso, ou seja, capitalista contra capitalista sem falar na eliminação do restante da presença do Estado na educação, saúde e segurança.

14 – Considerando este quadro os países economicamente periféricos – incluindo o Brasil - perdem ainda mais considerando a total dependência da exportação extrativista e agrícola somado a aniquilação do mercado interno através do desemprego ou precarização deste.

15 – No caso brasileiro começam a surgir aqui e ali defensores do aumento de gastos do governo como forma de salvação nacional, contudo precisamos ficar atentos ao tipo de proposta e separar estas daquelas voltadas a simples transferência dos recursos nacionais aos beneficiados de sempre.

16 – Ao Brasil não é possível simplesmente repetir o modelo adotado desde Juscelino Kubitschek aprofundado durante a ditadura militar é preciso avançar no sentido do planejamento econômico oferecendo as condições não somente para receber tecnologia, mas desenvolver um sistema de pesquisas e aplicação destas.

17 – O modelo chinês vai superando a dependência tecnológica constituindo este aspecto o principal alvo do imperialismo aponto aqui o exemplo do chamado 5G desenvolvido a partir de uma empresa privada respeitando esta a planificação estatal, ou seja, temos neste ponto um entendimento diferenciado do tradicional sistema de propriedade.

18 – O modelo brasileiro para superar a condição de atraso econômico, naturalmente, não será um cópia dos chineses, contudo devemos considerar de imediato a necessária intervenção do Estado no domínio econômico através da reestatização dos setores estratégicos (energia, mineração, água) associado ao incentivo a pesquisa e revisão do processo educacional técnico.

19 – Anotem; o discurso dos países do G7 vai saindo foco no controle fiscal para o aumento do gasto estatal  e neste ponto devemos abrir bem nossos olhos; não podemos ficar reduzidos a condição de salvadores dos ricos através da oferta de matéria-prima ou recursos financeiros extraídos do nosso trabalho através do pagamento dos juros criminosos das dívidas junto aos banqueiros e sacrifício dos direitos sociais.

20 – O império movimenta-se no sentido de manter o Brasil em sua condição colonizada, dependente e para este fim mobiliza o que há de mais retrogrado em termos políticos e joga ainda algumas fichas nos atrasados perfumados, educados surgindo estes como perigo ainda maior. Neste momento além da troca de nomes precisamos avançar na superação da dependência.
     

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Programa Escuta Educativa da Rádio Educare.47 do Instituto de Educação de Minas Gerais

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