segunda-feira, 2 de março de 2020



* ESCOLAS MILITARIZADAS E A VIOLÊNCIA DO HINO DA INDEPENDÊNCIA

* QUANDO PRESERVAR VALORES ESCONDE O INTERESSE EM MANTER UMA ORDEM SOCIAL INJUSTA

* PATRIOTISMO RITUALÍSTICO A VACINA DO SISTEMA CONTRA A TRANSFORMAÇÃO ECONÔMICA

Por Wladmir Coelho

“Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil”

1 - O refrão do Hino da Independência revela a legitimidade do recurso a violência diante da ameaça a soberania nacional e até podemos reduzi-lo ao espírito das elites locais em 1822, ou seja, a simples separação da antiga colônia da metrópole portuguesa.

2 – Liberdade, neste caso, fica reduzida a emancipação política submetida esta, a condição de manutenção das velhas elites coloniais no poder com consequente continuidade da escravidão, concentração da propriedade rural como espécie de manutenção da “ordem” e dos “valores” confundidos com fenômenos naturais ou mesmo sobrenaturais dignos de um culto com rituais rígidos.

3 – A economia nacional, desta forma, apresenta-se a caricaturada como soberana e desta decorrem as representações das forças para sua defesa todas amparadas em “valores” decorrentes da manutenção de uma ordem elitista.

4 – A superação desta condição de atraso mobilizou, ao longo de nossa história, muita gente interessada em entender a curiosa situação de um país que apesar do vasto território, das potencialidades minerais e destas a condição de industrialização e rompimento com o modelo de base colonial com população em condições miseráveis.

5 – O termo soberania, a partir deste momento, passa ser difundido em condições opostas a simples liberdade do senhor de terras agroexportador manter os seus ganhos as custas do atraso nacional.
6 – Valores transformam-se, surgem novos, contudo esta mudança decorre da transformação necessária de uma forma econômica de exploração e negação de direitos para aquela desejada pelo povo assumindo o termo soberania não a submissão aos interesses do poder econômico e consequente culto aos valores próprios de um modelo de exploração.

7 – Voltando ao refrão do início do texto: o fato violência, neste caso, continua presente desta vez, devemos observar, voltado a condição de defesa de um poder verdadeiramente popular resistente a qualquer ataque de eventuais forças contrárias ao projeto de superação da miséria decorrente da herança e prática colonial.

8 – Observe: a violência em defesa da soberania do povo não colocou fim ao país, a pátria, a família, a religião, contudo os “valores” pautados no poder total dos donos do dinheiro – na prática os meios de repressão e educação para submissão -  surgem como obsoletos transformando em realidade a construção de uma sociedade verdadeiramente humana, livre, criativa.

9 – “Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil” pode simplesmente representar a  manutenção de valores do atraso, do retrocesso e deste a perseguição a qualquer pessoa contrária ao modelo econômico de base colonial e temos em nossa história – não necessariamente nos manuais escolares – muitos que morreram exatamente por entenderem ao modo do povo este refrão.

10 – Para terminar publico a transcrição do artigo 50 do Manual das Escolas-Cívico Militares: “Todas as canções entoadas na escola devem despertar o entusiasmo pela escola, pelos heróis nacionais e pela Pátria. Não são autorizadas canções que usem palavras depreciativas, discriminatórias, que exaltem a violência ou que violem os valores éticos e morais da sociedade. Por isso, as canções devem ser, previamente, submetidas ao Diretor pelo Oficial de Gestão Educacional.” 

11 – Afinal o Hino da Independência será executado nas escolas militarizadas ou seu refrão violento – incluindo a possibilidade de interpretação popular - pode representar o motivo de sua proibição?  


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Programa Escuta Educativa da Rádio Educare.47 do Instituto de Educação de Minas Gerais

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