* A ANISTIA NO BRASIL
NUNCA FOI PARA O ANDAR DE BAIXO
* PRAÇAS USADOS E
DESCARTADOS PELA DIREITA; EIS O RESULTADO DO MOTIM
* A FANTASIA, O MUNDO
PARALELO DO DELÍRIO BOLSONARISTA COBRA O SEU PREÇO
Por Wladmir Coelho
1- Os jornais noticiam o
fim do motim da PM do Ceará com especial destaque ao veto de anistia aos
amotinados e muitos até apontam este fato como quebra da tradição brasileira de
no momento seguinte a movimentação armada dos militares o governo, como parte
do acordo, decretar a anistia. Uma análise mais atenta, todavia, vai revelar diferentes
tipos de perdão aos envolvidos em motins, revoltas e tentativas de golpes sempre
priorizando os oficiais em detrimento dos praças. A seguir alguns exemplos:
2 – A Revolta da Armada
de 1893 resultou em resposta enérgica do então presidente Marechal Floriano
Peixoto que decretou Estado de Sítio. prisões e autorização de fuzilamentos.
3 – Sucedendo o Marechal
Floriano o oligarca Prudente de Morais assina em 1895 a anistia beneficiando,
inclusive, os envolvidos no episódio de 1893 e devemos aqui observar tratar-se
o movimento da Marinha liderado pelo almirantado cumprindo os marinheiros, na prática,
ordens superiores.
4 – Em 1910 um marinheiro
farto dos castigos corporais, dos atrasos nos soldos miseráveis, das péssimas e
insalubres condições de vida dos embarcados de baixa patente da mesma Marinha
de 1893 liderou um movimento contra os oficiais; João Cândido era o seu nome.
5 – João Cândido – o
Almirante Negro – assumiu o controle dos principais navios de guerra exigindo
um tratamento digno aos militares de baixa patente e conseguiu abalar o governo
sem falar no apoio que recebeu da população a ponto de colocar em perigo a
continuidade do mandato do Marechal Hermes ou mesmo possibilitar um levante do
povo do Rio de Janeiro, todavia, diante das condições daquele momento, os
revoltosos de 1910 aceitaram um acordo com o governo existindo neste uma
anistia jamais cumprida.
6 – Os marinheiros líderes
da revolta foram presos, desterrados, assassinados, expulsos da Marinha sempre
em nome da manutenção da hierarquia um argumento sempre presente quando os de
baixo ousam a falar mais alto.
6 – Em março de 1964 os
marinheiros, 54 anos após a Revolta da Chibata, ainda estavam submetidos a
restrições absurdas impedidos até de casar sem a autorização do comandante existindo
ainda a vedação, aos praças, de concorrerem a cargos eletivos proibição estendida
às outras armas.
7 - Deste caldo surge uma
nova revolta seguida da anistia assinada pelo presidente João Goulart. O resto
da história sabemos todos incluindo a prisão e perseguição, após o golpe de
1964, dos marinheiros que lideraram a revolta devidamente dedurados por um
agente da CIA conhecido por cabo Anselmo infiltrado no movimento.
7 – Os sargentos do
Exército defensores da linha nacionalista de Leonel Brizola sofreram a mesma
perseguição e somente foram anistiados no final da ditadura militar.
8 – Retornando ao motim
da PM cearense ficou evidente a participação, amplamente denunciada pelo
senador Cid Gomes, de grupos ligados a organizações políticas de direita com
claro objetivo de desestabilizar o governo estadual.
9 – A postura distante e
displicente do governo federal diante dos acontecimentos do Ceará, denunciada
pelo ex-governador Ciro Gomes, também chamou a atenção de elementos associados
aos grupos radicais de direita, associados ao bolsonarismo, apontando o político
a presença da chamada bancada da bala, em diferentes níveis de
representatividade, inclusive no interior dos quartéis.
10 – Restou do movimento
a punição aos praças agora sem o direito de reivindicar a anistia comprovando por
um lado a tradição elitista de condenação enérgica quando os envolvidos ocupam
o andar de baixo entregues na bandeja da irresponsabilidade de lideranças
demagógicas garantidas em seus mandatos e agora com uma nova bandeira para iludir
seus eleitores: a luta pela anistia.
11 - O episódio da
retroescavadeira do senador Cid Gomes de forma inegável serviu para enfraquecer
o motim revelando, todavia, o limite do governo estadual e daqueles associados
ao setor armado do grupo mais radical de direita jogando por terra aquela
conversa de golpe com apoio das armas.
12 – Não duvido da
participação de muitos praças como resultado de uma adesão ingênua, acreditando
no combate aos esquerdistas comunistas, corruptos, destruidores da família e
alguns até delirando com a retomada da ditadura militar romantizada como tempo
de alegrias e glórias. Estes, os praças punidos, encontram-se agora abandonados
pela elite que fomentou e fomenta toda a farsa legitimadora da entrega do
Brasil aos interesses do capital internacional, da retirada de direitos dos
trabalhadores e passam a engrossar os 50 milhões de desempregados e
subempregados.
13 – A tradição foi mantida.
PS- 1- Em termos gerais
os representantes dos militares nos diferentes parlamentos colocam-se como
conservadores, direitistas ignorando o quanto lideranças esquerdistas,
nacionalistas proporcionaram conquistas notadamente aos praças.
PS- 2 – Recordo aqui a
figura de Leonel Brizola e sua luta em apoio as reivindicações dos praças
associadas estas ao programa de transformação social e defesa da soberania do
Brasil, também devemos apontar, ainda nos anos 1960, os primeiros parlamentares
sargentos eleitos através de legendas ou associados aos grupos da esquerda
brasileira sempre com a bandeira da defesa da soberania e rompimento com o imperialismo.
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