segunda-feira, 2 de março de 2020

A ANISTIA NO BRASIL NUNCA FOI PARA O ANDAR DE BAIXO


* A ANISTIA NO BRASIL NUNCA FOI PARA O ANDAR DE BAIXO

* PRAÇAS USADOS E DESCARTADOS PELA DIREITA; EIS O RESULTADO DO MOTIM

* A FANTASIA, O MUNDO PARALELO DO DELÍRIO BOLSONARISTA COBRA O SEU PREÇO

Por Wladmir Coelho

1- Os jornais noticiam o fim do motim da PM do Ceará com especial destaque ao veto de anistia aos amotinados e muitos até apontam este fato como quebra da tradição brasileira de no momento seguinte a movimentação armada dos militares o governo, como parte do acordo, decretar a anistia. Uma análise mais atenta, todavia, vai revelar diferentes tipos de perdão aos envolvidos em motins, revoltas e tentativas de golpes sempre priorizando os oficiais em detrimento dos praças. A seguir alguns exemplos:

2 – A Revolta da Armada de 1893 resultou em resposta enérgica do então presidente Marechal Floriano Peixoto que decretou Estado de Sítio. prisões e autorização de fuzilamentos.
3 – Sucedendo o Marechal Floriano o oligarca Prudente de Morais assina em 1895 a anistia beneficiando, inclusive, os envolvidos no episódio de 1893 e devemos aqui observar tratar-se o movimento da Marinha liderado pelo almirantado cumprindo os marinheiros, na prática, ordens superiores.

4 – Em 1910 um marinheiro farto dos castigos corporais, dos atrasos nos soldos miseráveis, das péssimas e insalubres condições de vida dos embarcados de baixa patente da mesma Marinha de 1893 liderou um movimento contra os oficiais; João Cândido era o seu nome.

5 – João Cândido – o Almirante Negro – assumiu o controle dos principais navios de guerra exigindo um tratamento digno aos militares de baixa patente e conseguiu abalar o governo sem falar no apoio que recebeu da população a ponto de colocar em perigo a continuidade do mandato do Marechal Hermes ou mesmo possibilitar um levante do povo do Rio de Janeiro, todavia, diante das condições daquele momento, os revoltosos de 1910 aceitaram um acordo com o governo existindo neste uma anistia jamais cumprida.

6 – Os marinheiros líderes da revolta foram presos, desterrados, assassinados, expulsos da Marinha sempre em nome da manutenção da hierarquia um argumento sempre presente quando os de baixo ousam a falar mais alto.

6 – Em março de 1964 os marinheiros, 54 anos após a Revolta da Chibata, ainda estavam submetidos a restrições absurdas impedidos até de casar sem a autorização do comandante existindo ainda a vedação, aos praças, de concorrerem a cargos eletivos proibição estendida às outras armas.

7 - Deste caldo surge uma nova revolta seguida da anistia assinada pelo presidente João Goulart. O resto da história sabemos todos incluindo a prisão e perseguição, após o golpe de 1964, dos marinheiros que lideraram a revolta devidamente dedurados por um agente da CIA conhecido por cabo Anselmo infiltrado no movimento.

7 – Os sargentos do Exército defensores da linha nacionalista de Leonel Brizola sofreram a mesma perseguição e somente foram anistiados no final da ditadura militar.
  
8 – Retornando ao motim da PM cearense ficou evidente a participação, amplamente denunciada pelo senador Cid Gomes, de grupos ligados a organizações políticas de direita com claro objetivo de desestabilizar o governo estadual.

9 – A postura distante e displicente do governo federal diante dos acontecimentos do Ceará, denunciada pelo ex-governador Ciro Gomes, também chamou a atenção de elementos associados aos grupos radicais de direita, associados ao bolsonarismo, apontando o político a presença da chamada bancada da bala, em diferentes níveis de representatividade, inclusive no interior dos quartéis.

10 – Restou do movimento a punição aos praças agora sem o direito de reivindicar a anistia comprovando por um lado a tradição elitista de condenação enérgica quando os envolvidos ocupam o andar de baixo entregues na bandeja da irresponsabilidade de lideranças demagógicas garantidas em seus mandatos e agora com uma nova bandeira para iludir seus eleitores: a luta pela anistia.

11 - O episódio da retroescavadeira do senador Cid Gomes de forma inegável serviu para enfraquecer o motim revelando, todavia, o limite do governo estadual e daqueles associados ao setor armado do grupo mais radical de direita jogando por terra aquela conversa de golpe com apoio das armas.

12 – Não duvido da participação de muitos praças como resultado de uma adesão ingênua, acreditando no combate aos esquerdistas comunistas, corruptos, destruidores da família e alguns até delirando com a retomada da ditadura militar romantizada como tempo de alegrias e glórias. Estes, os praças punidos, encontram-se agora abandonados pela elite que fomentou e fomenta toda a farsa legitimadora da entrega do Brasil aos interesses do capital internacional, da retirada de direitos dos trabalhadores e passam a engrossar os 50 milhões de desempregados e subempregados.

13 – A tradição foi mantida.  

PS- 1- Em termos gerais os representantes dos militares nos diferentes parlamentos colocam-se como conservadores, direitistas ignorando o quanto lideranças esquerdistas, nacionalistas proporcionaram conquistas notadamente aos praças.

PS- 2 – Recordo aqui a figura de Leonel Brizola e sua luta em apoio as reivindicações dos praças associadas estas ao programa de transformação social e defesa da soberania do Brasil, também devemos apontar, ainda nos anos 1960, os primeiros parlamentares sargentos eleitos através de legendas ou associados aos grupos da esquerda brasileira sempre com a bandeira da defesa da soberania e rompimento com o imperialismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Programa Escuta Educativa da Rádio Educare.47 do Instituto de Educação de Minas Gerais

Vídeos