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PRECARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E CRISE ECONÔMICA
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AFINAL O QUE É AUMENTAR O GASTO PÚBLICO PARA SUPERAR A CRISE?
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A DIFERENÇA ENTRE MIRIAM LEITÃO E ROOSEVELT
Por
Wladmir Coelho
1 – A partir de 1929, marco
do início da “grande depressão”, os governos dos Estados Unidos em seus
diferentes níveis trataram de criar meios para proteger a economia, eufemismo para
salvar o capitalista, colocando em
prática o salve-se quem puder liberal e suas medidas de auxílio aos muito ricos
amparadas na redução dos gastos públicos recorrendo, inclusive, ao fechamento
de escolas e demissão de professores quadro somente alterado a partir de 1933
com a eleição de Franklin Delano Roosevelt.
2 – Este texto não
pretende discutir em detalhes as práticas econômicas de mr. Roosevelt
caracterizadas, em termos gerais, pela intervenção estatal no domínio econômico
a ponto de garantir o financiamento do setor produtivo exigindo em troca alguns
limites na liberdade da gestão privada controlando o governo a fabricação dos produtos
de maior necessidade, a quantidade destes, os salários acrescido do
investimento em obras públicas.
3 - O capitalismo, como
sabia muito bem mr. Roosevelt, não vai sobreviver controlado precisando
expandir para garantir a sua reprodução e não foi sem razão o apoio dos capitalistas
estadunidenses ao projeto de poder de Adolf Hitler e sua pratica de dominação
de novos territórios garantindo, através desta política econômica da morte, a exportação
de caminhões da Ford, petróleo da Standard Oil à Alemanha nazista, neste último
caso, mesmo após a declaração de guerra recorrendo o truste estadunidense ao
contrabando de petróleo mexicano, venezuelano para atender ao fuher.
4 – Mr. Roosevelt
governava um país imperialista possuindo seus capitalistas interesses além
fronteira necessitando estes dos diplomatas com seus subornos acompanhados de
acordos comerciais somados aos canhões dos generais para a proteção dos
investimentos pátrios, destruição da concorrência e submissão dos povos
explorados sem falar no sistema bancário de alcance internacional garantindo o
fluxo dos lucros destinados ao império. A morte associada a destruição, como
vamos observando, constitui a outra banda das políticas de salvação do
capitalismo possibilitando, desta forma, um entendimento básico do discurso dos
atuais ocupantes do poder na matriz e aqui na filial.
5 – Realizadas estas observações
retorno neste ponto ao fato política econômica interna de mr. Roosevelt destacando
a famosa ampliação dos gastos estatais hoje defendidos a pleno pulmão em artigos
de antigos defensores da rigidez fiscal nas páginas de O Globo, Folha de São
Paulo, Estadão e outros órgãos merecendo, inclusive, ações efetivas do sr.
Guedes destinando este bondoso intervencionista alguns trilhões do dinheiro do
povo aos bancos.
6 – Todos estes neointervencionistas
recorrem ao exemplo histórico evocando os feitos de mr. Roosevelt ocultando,
todavia, as ações relacionadas ao planejamento – veja não fiz referência a
planificação – da produção resultando este em tabelamentos de preço e associação
dos fabricantes e comerciantes em cartéis, sindicatos regulamentando estes os
valores dos salários até a quantidade de produtos a sair das fábricas recebendo
do Estado a garantia do consumo venha este na forma da compra uniformes para os
militares, policias, serviço médico ou renovação das frotas destes mesmos
setores sem falar nas obras públicas necessitando estas de tratores, caminhões
e equipamentos sofisticados destinados, por exemplo, às hidrelétricas.
7 – A educação foi outro setor
público integrado a política de geração de empregos de mr. Roosevelt através da
construção de prédios escolares, reformas e contratação de professores existindo
ainda uma política de ampliação do tempo de permanência nas escolas através do
emprego de estudantes para atuar como monitores ou apoio nas atividades escolares.
O processo de alfabetização de adultos também mereceu a atenção oficial através
da implantação de cursos noturnos em escolas provisórias muitas transformadas em
permanentes novamente ampliando o quadro de professores.
8 – Aqui podemos notar significativas
diferenças entre o modelo de gasto público defendido pelos srs. Bolsonaro,
Guedes, Bom Rapaz Maia, generais carreiristas, comentaristas econômicos assalariados
dos grandes bancos e governadores oportunistas agora insistentes na busca da
salvação do ano letivo através do discurso em defesa da aplicação das ditas
aulas online – na realidade semipresenciais - mesmo sabendo do reduzidíssimo alcance desta
proposta.
9 – A referida insistência
não constitui uma exclusividade do srs. Dória, Zema e outros tantos existindo
uma associação destes ao discurso predominante entre seus pares dos Estados
Unidos estes, devemos registrar, mais honestos ou explícitos ao apresentarem de
forma objetiva a real intenção em reduzir os gastos da educação através do
fechamento das escolas demissão de professores e ampliação do tempo em
atividades online.
10 – Diante da crise econômica
do final dos anos de 1920 os governadores, lá na matriz, também optaram pelo
corte no orçamento da educação inclusive com o fechamento de redes inteiras
como foi o caso da Geórgia outros, como Nova York, fecharam escolas rurais, dos
bairros mais pobres e cortaram 30% do orçamento. Como observamos mr. Roosevelt,
a partir de 1933, iniciou um processo inverso aumentando os gastos do Estado
comprovando o fracasso dos defensores da fome em nome do rigor fiscal.
11 – Vejam neste ponto o
quanto a conversa de ampliação dos gastos públicos pode ser entendida de
diferentes formas incluindo o cinismo de nossos dias presente nos discursos em
defesa da garantia do direito à educação utilizado como ferramenta para a
destruição deste. Observe inicialmente alguns exemplos lá da matriz; o governador
de Nova Iorque, Mr. Andrew Cuomo anunciou um profundo corte no orçamento da
educação acompanhado este do discursinho do repensar o modelo de ensino chamando
para esta inciativa mr. Bill Gates, mr. Bloomberg e outros tantos interessados
no ensino online. Deste grupo mr. Cuomo simplesmente excluiu os professores.
12 – Enquanto Nova Iorque
“convida” mr. Gates para pensar o distrito educacional de Avondale no Michigan
resolveu radicalizar e terminar, em uma de suas escolas, com as atividades presenciais
de forma definitiva demitindo professores introduzindo aulas online, sempre em
nome da economia dos recursos públicos, servindo esta inciativa, de uma pequena
escola pública, de sinal aos incrédulos.
13 – Com relação ao
Brasil, vamos aqui recordar, merece especial atenção o modelo aprovado a partir
da dita reforma do ensino médio permitindo esta a conversão de parcela considerável
do tempo escolar em online enquanto aos professores projetos legislativos e
mesmo a lei de responsabilidade fiscal segue garantindo a demissão de
funcionários concursados, sempre em nome do equilíbrio fiscal e redução dos
gastos, isso somado aos recorrentes cortes resultado da suspensão do vínculo
constitucional.
14 – Outras fórmulas adotadas
nos Estados Unidos surgem no Brasil através da fala de governadores, ministros
e assalariados dos institutos dos bancos e fundações financiadas por
fabricantes de bebidas alcoólicas sempre no sentido de criar vouchers, uma
espécie de retorno ao tempo das bolsas dos deputados, acompanhado da ampliação
do tempo online seguido de uma formação dita técnica de algumas poucas horas
curiosamente em nome do aumento da produção sem a existência de uma política
econômica voltada a criação de empregos, ou seja, cursos para o nada.
15 – A crise econômica
detonada a partir da pandemia do COVID-19 começa a ser comparada com aquela verificada
a partir do final dos anos 1920 apresentando esta como remédio inicial o
socorro aos muito ricos utilizando para este fim os recursos do povo seguido,
diante do fracasso da fórmula, da intervenção do Estado através da
regulamentação da produção e aumento dos gastos públicos terminando na
destruição, através da guerra, dos eventuais concorrentes e depois desta na
associação do capital dos Estados Unidos ao alemão, inglês, francês criando, em
termos gerais, a supremacia do império estadunidense.
16 – Em 1930 o Brasil seguiu
o caminho de uma política econômica autônoma servindo esta de base para
ampliação ou consolidação da soberania nacional tentativa massacrada a partir
da postura antinacional dos grupos de importadores sempre associados aos
generais entreguistas desde o final da guerra prazerosamente submetidos aos
interesses dos Estados Unidos em nossa terra.
17 – O modelo do pós-guerra,
assim podemos notar, vai passando por profundo desgaste com tentativas de
salvação semelhantes aquelas adotadas antes de 1933 representando um grande
prejuízo aos trabalhadores incluindo, no caso brasileiro, um retrocesso
gigantesco na educação pública sempre em nome dos cortes no gasto público uma
frase hipócrita para mascarar o saque do país em beneficio do capital
estadunidense.