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PLANO MARSHALL BOLSONARISTA, QUAL A SURPRESA?
*GENERAIS NACIONALISTAS EXISTEM SOMENTE NA IMAGINAÇÃO DOS INGÊNUOS
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QUANTA DESINFORMAÇÃO NOS MEIOS DE INFORMAÇÃO
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VAMOS ESTUDAR HISTÓRIA?
Por
Wladmir Coelho
1 – Os jornais noticiam a
criação de um grupo de trabalho em Brasília, chefiado pelo general Braga Neto,
para “coordenar ações estruturantes e estratégicas para recuperação,
crescimento e desenvolvimento do país” recebendo este o apelido de Plano
Marshall.
2 – Os inocentes,
ingênuos, otimistas ou simplesmente oportunistas de sempre aproveitaram a
ocasião para os vivas costumeiros ao general ponderado, “nacionalista” e tutor
do incontrolável sr. Bolsonaro apagando, estes oportunistas, de seus escritos e
vídeos do YouTube o tenebroso 19 de abril data das manifestações concertadas
realizadas nos Estados Unidos e Brasil defendendo estas a prática cruel da
imunidade do rebanho merecendo, na capital brasileira, uma manifestação em
frente ao Comando do Exército pedindo a volta da ditadura militar merecendo o
referido episódio um discurso do tutelado pelo militar patriota.
3 – Esta prática de vivas
ao “presidente de fato”, assim referem-se os oportunistas ao general Braga
Neto, encontra-se amparado na celebre frase do grande Chacrinha: “eu vim para
confundir e não para explicar” e cumpre, nos vídeos e textos oportunistas, a
função de desmobilizar o povo criando a ilusão de uma disputa interna no governo
entre “nacionalistas” e “entreguistas” agora simbolizada na criação de um grupo
de trabalho apelidado, ao modo colonizado, de “Plano Marshall” associando o
projeto de dominação imperial ao nacionalismo econômico.
4 – Assumem os
oportunistas seu tradicional apoio ao projeto de dominação imperialista utilizando
o discurso de pertencimento do Brasil a cultura ocidental, democrática e cristã
entendendo esta a partir da organização social estadunidense reforçando os
fundamentos ideológicos para a submissão cultural, notadamente dos grupos
dominantes, proporcionando a sustentação do modelo econômico de base colonial. A
utilização de termos associados aos interesses imperialistas, no caso deste texto
refiro-me ao Plano Marshall do general patriota, transformando estes em práticas
de salvação revelam o quanto encontram-se colonizados vastos setores ditos
progressistas incapazes de uma análise política, social, econômica a partir da
realidade brasileira.
5 – Para entender esta
afirmativa precisamos recorrer a história e retornar ao ano de 1947 quando
ficam estabelecidas as bases da política externa dos Estados Unidos durante a
Guerra Fria sistematizadas na chamada doutrina
Truman (Harry Truman foi presidente dos Estados Unidos entre 1945 e 1953) amparada
no velho e carcomido discurso do “destino manifesto”, ou seja, o mito dos EUA
como nação escolhida por Deus para levar ao mundo à democracia e seus valores
civilizatórios ocidentais, naquele momento histórico resumida ao objetivo de barrar
o avanço do eterno perigo comunista, valendo-se, para este fim, da manutenção
dos governos fascistas espanhol e português, a legitimação da monarquia
fascista Grécia – este, ao lado da Turquia, merecedor dos primeiros empréstimos
e apoio militar estadunidense contra o povo - e combate violento aos movimentos de
reivindicação dos trabalhadores sempre em nome da liberdade, principalmente,
econômica.
6 – Neste mesmo ano de
1947 Winston Churchill divulga o termo “cortina de ferro” criando uma separação
de base ideológica entre os países europeus “ocidentais” e aqueles socialistas
agora entendidos como “orientais” distinguindo-se esta classificação na
associação da liberdade ao capitalismo a ser defendido – enquanto base dos
valores democráticos, cristãos e ocidentais – a partir do poder militar dos
Estados Unidos devidamente apoiado pela Agência Central de Inteligência – CIA –
também criada em 1947 - expandindo a mistificação
salvífica estadunidense assumindo no Brasil sua forma definitiva a partir da
criação da Escola Superior de Guerra, em 1949, funcionando esta como centro de sistematização
e difusão dos elementos presentes na doutrina Truman aos militares, meios empresariais,
acadêmicos, jornalistas.
7 – A doutrina Truman –
fica fácil perceber – amplia a presença do setor industrial bélico na economia
estadunidense uma continuidade, em relação a proteção da indústria local, da
economia de guerra revelando em sua fundamentação a dependência do capital dos
recursos estatais e tratando-se de um império a necessária existência de uma
força militar moderna em condições de atacar a qualquer momento com as armas
mais avançadas, independentemente da localização, eventuais governos contrários
aos interesses imperialistas.
8 – Aqui um parêntese;
enquanto na Europa o discurso da liberdade mantinha no poder os fascistas no
Brasil o governo ditatorial de Getúlio Vargas, de postura nacionalista, era
derrubado a partir de um golpe militar acusado de aproximação com os
comunistas, sindicatos e não subordinação aos interesses estadunidenses. O
chefe do movimento golpista, general Eurico Dutra, era daqueles convertidos de
admirador do fascismo em amante da liberdade e devotado seguidor do destino
manifesto. Eleito presidente o general democrata – governando com a
Constituição da ditadura de 1937 naturalmente ignorando os aspectos
nacionalistas - tratou de arrochar os salários, reprimir de forma violenta os
defensores do monopólio do petróleo, chegando a cassar o Partido Comunista
Brasileiro, romper relações diplomáticas com a União Soviética e abrir ao
máximo a economia brasileira aos interesses do imperialismo.
9 – Voltando a Doutrina
Truman; para concretizar uma política externa expansionista, como verificamos, o
imperialismo estadunidense estabelece um projeto sustentado a partir de uma ideologia
salvífica difundida esta com apoio da CIA encrustando nos países subordinados
seus respectivos centros de doutrinação devidamente acompanhado do crescimento
do poder militar sustentado a partir de uma indústria gigantesca. Aos aspectos
ideológicos e de força acrescenta-se a presença econômica através de empréstimos
e doações sempre associados à troca comercial.
10 – O plano Marshall –
nome fantasia do Plano de Recuperação Europeia - constitui parte desta estratégia e foi
idealizado pelo general George Catlett Marshall enquanto ocupava o cargo de Secretário
de Estado de Harry Truman destinando a 16 países europeus US$ 13 bilhões – na época
o equivalente a 2% do PIB estadunidense – destinados em sua maior parte,
segundo dados do site InfoMoney em 25 de março, ao Reino Unido com US$ 3,2 bilhões, França US$ 2,7 bilhões, Itália US$ 1,5 bilhão e parcela ocupada pelos Estados
Unidos e Reino Unido da Alemanha com US$1,4 bilhão. O mesmo site informa a
destinação dos recursos, em sua maior parte, para a importação de produtos dos
próprios Estados Unidos a saber; 60% para compra de alimentos e insumos para
produção agrícola e industrial, 16,5% em combustíveis, 16,5% em máquinas
industriais e veículos e 7% com gastos de transporte efetivados com a Marinha
Mercante.
11 – O plano Marshall,
como verificado nos números acima, a partir do incentivo estatal aos setores
produtivos dos Estados Unidos notadamente a sua indústria pesada e agricultura
beneficiando-se esta enquanto o equivalente europeu recuperava-se – veja bem
recuperava-se – dos efeitos destrutivos da guerra. Neste ponto temos aqui a
observar ou comparar esta situação com aquela verificada no mesmo período na
China país ao qual foi oferecido, através do mesmo general Marshall, uma
proposta semelhante antes mesmo da oficialização do acordo europeu.
12 – O general Marshall,
contudo, não conseguiu o mesmo sucesso e neste ponto devemos considerar e
entender a diferença entre recuperar um parque industrial e tecnológico e construir
e desenvolver um projeto de industrialização e modernização da agricultura –
este era o principal ponto – na China em busca da superação de seu atraso e
principalmente das dificuldades na segurança alimentar.
13 – A China rejeita o
acordo com os Estados Unidos não em nome da ideologia e sim amparada na
proposta de construção de sua soberania e pouco seria útil um governo
revolucionário dependente de alimentos importados e destes as consequentes
intervenções econômicas externas na política interna tornando nulo o rompimento
com o modelo imperialista.
14 – Os resultados
positivos do Plano Marshall para a retomada da economia europeia encontram-se ainda hoje em debate e apesar dos
elevados índices de crescimento durante a vigência – 55% em quatro anos - existindo uma atenção especial a condição de
associação entre os capitais dos diferentes países beneficiados com aquele sediado
nos Estados Unidos verificando-se ainda, através desta associação, o acesso e
controle estadunidenses das matérias primas – incluindo petróleo – presentes nas
antigas colônias do Reino Unido, Espanha, Portugal, França e demais potências
coloniais existindo ainda no caso da Alemanha a permanência do controle das
empresas em mãos da mesma burguesia responsável pela ascensão do nazismo
controle este, naturalmente, associado ao capital imperial.
15 – Ao Brasil, como
podemos perceber, nada foi oferecido com relação aos alegados benefícios da
ajuda do Plano Marshall a não ser uma oferta de equipamentos militares, durante
o governo do presidente Getúlio Vargas, como forma de garantir a participação
brasileira na guerra da Coreia no inicio dos anos 1950 como sabemos um conflito
ainda não terminado em sua plenitude e resultado dos interesses do capitalismo
em aproximar e garantir a presença na Ásia como forma de limitar a China.
16 – O presidente Vargas,
apoiado por vastos setores da sociedade incluindo os militares nacionalistas
liderados pelo então ministro da guerra general Stilac Leal, recusaram a participação
brasileira no conflito revelando uma política externa no mínimo independente.
Os resultados desta posição sabemos todos; o general Stilac Leal foi retirado
do ministério terminando Vargas da forma que todos sabemos. Eis uma
oportunidade para o entendimento do conceito de militar nacionalista inclusive
percebendo a postura de um general não formado a partir da doutrina elaborada na
Escola das Américas e traduzida aqui de forma insistente e permanente ainda em
nossos dias explicando este fato a postura plácida diante de protestos nas
portas dos quartéis exigindo um governo de força, autoritário reprimindo qualquer
ameaça aos interesses do império igualzinho em 1964.
17 – Em termos de
aproximação ou acordos de ajuda dos Estados Unidos coube ao Brasil e demais
países da América Latina, no início dos anos 1960 durante o governo de John
Kennedy, a famosa Aliança para o Progresso construída na base da doação de
leite em pó o programa apresentava como fundamental ao combate do eterno
monstro comunista – naquele momento localizado em Cuba - o discurso da melhoria das condições de vida
da população sempre mantendo o cuidado de sacramentar o modelo capitalista
atribuindo ao crescimento “excessivo” da população o problema da distribuição
de renda desdobrando esta ação nos programas de esterilização em massa – hoje temos
o discurso da imunidade do rebanho - enquanto no campo ideológico desembocou na
construção de um modelo de escolarização recentemente ressuscitado sem falar na
ênfase na formação do técnico pela técnica desvalorizando a pesquisa e
desenvolvimento tecnológico.
18 – Em termos
conclusivos devemos observar o quanto ainda necessitamos de aprofundar o debate
a respeito do conceito de nacionalismo econômico para os países atrasados
aparecendo o caso brasileiro acrescido de um entendimento dos elementos
históricos responsáveis pela solidificação ideológica do imperialismo a ponto
de existirem associações ingênuas entre os meios utilizados para a reprodução
deste como forma de superação do atraso.
19 – O exemplo desta
ingenuidade revela-se na fantasia pueril de associar qualquer medida
intervencionista por si a condição de rompimento com o modelo entreguista
esquecendo o quanto o Estado brasileiro é utilizado para exatamente garantir e legitimar
as práticas de espoliação seja através da destruição do mercado interno,
remetendo sem limites recursos ao exterior e agora criando os meios para
comprar papeis das empresas e dividas do império. O Brasil não precisa de um
plano Marshall e sim de uma proposta de rompimento com o modelo imperialista resgatando
assim a sua soberania.
Parece quase à volta à ditadura!!!
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