terça-feira, 28 de julho de 2020

A MISÉRIA AUMENTANDO O LUCRO DOS BILIONÁRIOS


* A MISÉRIA AUMENTANDO O LUCRO DOS BILIONÁRIOS 

* CULTURA IMPORTADA E DOMINAÇÃO COLONIAL

* A ILHA DA FANTASIA; UM HABITAT IMAGINÁRIO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Por Wladmir Coelho

1 – O sonho de parcela considerável da pequena burguesia brasileira é acumular a maior quantidade possível de dinheiro e comprar uma daquelas mansões de gesso e papelão em Orlando sempre em nome da “qualidade de vida” decorrente, segundo a crença predominante entre os novos ricos, da condição de superioridade cultural dos moradores daquela cidade e por extensão do país.

2 – Enquanto a pequena burguesia brasileira sonha os poucos membros da burguesia propriamente dita, faz muito tempo, transferiram  suas residências e contas bancárias para diferentes paraísos – notadamente os fiscais – incluindo os pontos mais elegantes de Nova Iorque, Paris, Londres e outros centros econômicos naturalmente ocupando residências mais sólidas nas quais trocar uma lâmpada ou ligar a tomada do ar condicionado não implique em risco de morrer, aliás, estes sequer sabem onde fica a tomada do mencionado aparelho – neste caso um sistema de refrigeração e aquecimento operado por computador -  existindo para o atendimento imediato, deste e outros  terríveis problemas domésticos, um exército de empregados todos com salários associados aos gastos da empresa sediada no Brasil implicando esta singela manobra fiscal em espécie de tributo a ser pago por todos os trabalhadores do auriverde torrão.

3 – Apenas para ilustrar; o jornal Valor Econômico apresentou a lista dos 10 homens mais ricos do Brasil e aqui aponto os 4 primeiros; Jorge Paulo Lemann, Joseph Safra, Marcel Herrmann Telles, Eduardo Saverin. Destes o primeiro e o quarto vivem no exterior, o segundo apresenta formação inglesa – inclusive colegial – enquanto o terceiro é subordinado ao mais rico de todos. As maiores fortunas encontram-se, conforme é possível observar, associadas umas com as outras através do controle e participação em fundos de investimentos possibilitando a presença do bilionário X na corporação de seu homologo Y possuindo, deste modo, interesses comuns aqui e no exterior.

4 – Veja bem; a burguesia de um país com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados considera normal viver em outro continente educando os seus filhos em escolas e universidades destinadas aos muito ricos assimilando estes a forma de pensar e agir imperial entendendo como natural a base colonial da economia nacional. Esta mesma burguesia, cujo contato com o Brasil efetiva-se nos períodos de férias, controla bancos, o que sobrou da indústria, mineradoras, comunicação organizando, conforme os seus interesses, a economia incluindo os salários, direitos trabalhistas, o tamanho e alcance das políticas educacionais, de saúde e segurança.

5 – O rompimento com este modelo de organização encontra-se associado de forma evidente a superação da cultura de colonização cujo resultado é a naturalização do atraso nacional associado, em função da cultura de colonização, ora a questões raciais, ao clima, a corrupção, ao comunismo sempre ocultando o fator exploração em decorrência da submissão e integração ao imperialismo.

6 – A legitimação da cultura de colonização ocorre de forma sutil através dos meios de comunicação, da escola, da atuação dos governos, da forma de organização do trabalho constituindo o seu rompimento uma atividade complexa existindo, neste sentido, em nossa história, exemplos de pequenos avanços e grandes retrocessos.

7 – Em termos gerais o grande senhor de terras escravista, o minerador proprietário de escravos e mesmo a classe igualmente parasitária de exportadores de produtos primários sobrevivem em nossos dias graças a preservação das relações de base colonial tenham origem em Lisboa, Londres ou Nova Iorque representando estas cidades os distintos modelos de administração e organização política do Brasil.

8 – A educação escolar brasileira, notadamente o ensino da história, pouco ou nada preocupou-se em entender a relação entre o atraso nacional e preservação do modelo econômico de base colonial preferindo identificar, datar os períodos criando uma colcha de retalhos com fotografias, textos incompletos e questionamentos superficiais agora no período pandêmico este quadro aprofunda-se através do retorno ao modelo tecnicista com perguntas e respostas a partir de textos limitados uma atividade entediante para alunos e professores.

9 – Os meios de comunicação, controlados pelos descendentes diretos ou adotivos daqueles antigos senhores de terras, em nome do lucro fácil, pagam royalties à indústria cultural dos Estados Unidos a ponto de gerações inteiras de brasileiros conhecerem e acreditarem na história mítica daquele país com seus heróis moralistas e sua defesa de uma tal liberdade sempre associada a determinação de um povo escolhido de Deus, mas pronto para impor o seu poder de forma nada sobrenatural utilizando, para este fim, os elementos profanos conhecidos por dinheiro e canhão.

10 – Esta assimilação cultural chegou e foi instalada de forma quase imperceptível graças a  condição de subordinação de nossa burguesia interessada em mostrar-se superior aos trabalhadores apresentando, esta dita elite, a negação ou entendimento de nossa formação como inferior entendendo como parâmetro o estágio final dos países centrais desconsiderando o processo histórico incluindo a subordinação nacional como forma de contribuição colonial ao crescimento e desenvolvimento daqueles países cultuados como superiores.

11 –  Em termos práticos podemos observar de forma nítida  a submissão da burguesia brasileira, através de seus representantes políticos, participando, na  embaixada dos Estados Unidos, das comemorações oficiais do dia da independência daquele país, mas condenando histericamente qualquer menção aos movimentos revolucionários da América Latina, da África ou da Ásia afinal estes representam o rompimento com o modelo imperialista daquele e por isso recebem a condenação e o rótulo de movimentos não democráticos. Democracia, neste caso, entendida em sua concepção mística e mítica na qual prevalece a vontade do imperialismo.

12 – Os representantes políticos da burguesia auriverde conseguem inverter até o conceito de patriotismo neste caso associado a defesa dos interesses estrangeiros representados na destruição dos instrumentos construídos, naqueles momentos de pequenos avanços, para a modernização da economia brasileira em benefício, vejam só, da burguesia. Preferem, os nossos ricos e seus representantes, uma subordinação ou integração plena ao imperialismo estes representantes políticos retomaram, com ferocidade superior aos anos 1990, a entrega da Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, privatização da educação, limitação da pesquisa aos interesses do capital externo dificultando qualquer atitude de intervenção do Estado no sentido de superar o modelo econômico de base colonial mesmo que esta venha a partir dos interesses da burguesia como registrado em outros momentos históricos.

13 – Uma economia subordinada ao imperialismo implica em transformar um país soberano em tributário ao império e neste momento de crise profunda, acelerada a partir da pandemia da COVID-19, os ricos da matriz exigem fundos para a cobertura de suas dividas instituindo uma neoderrama exigindo de suas filiais aumento nos lucros as custas da redução dos salários e empregos somado ao acesso à mercados antes limitados como o caso da educação básica alvo, inclusive, daquele mais rico da lista do jornal Valor Econômico. O desemprego, os salários baixos, os atrasos nos pagamentos dos servidores públicos acabam por garantir o aumento das fortunas – os jornais mostram que aqueles senhores da lista citada neste artigo lucraram US$ 34 bi, assim mesmo com B de BILHÃO, enquanto os trabalhadores imploram pela manutenção de R$ 600,00.

14 – Enquanto os bilionários aumentam suas remessas ao exterior o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela a existência, até a primeira quinzena de junho, de 1,3 milhão de falências predominando, neste contexto, aquelas empresas de pequeno porte com até 49 funcionários, ou seja, a pequena burguesia brasileira segue ladeira abaixo e mesmo assim, mergulhada na cultura colonialista, prefere apoiar as medidas de manutenção do modelo decadente.

15 -  O sonho da pequena burguesia de morar em Orlando vai ficando mais e mais distante, as prestações atrasadas do apartamento com varanda gourmet, da pick-up, do colégio acumulam-se dia após dia e seguem os iludidos acreditando na salvação a partir da destruição dos direitos sociais e privatização de tudo, em resumo, não entendem a necessidade de rompimento com o imperialismo preferindo embarcar no discurso cínico e falimentar de seus representantes atacando os servidores públicos acusados de privilegiados e viverem na “Ilha da Fantasia”.

16 – Neste ponto, o habitat imaginário dos funcionários públicos, precisamos de alguns esclarecimentos; “A Ilha da Fantasia” foi o título de um seriado estadunidense, do final dos anos 1970, apresentado inicialmente na Rede Globo. Os episódios desenvolviam-se em uma ilha particular no Oceano Pacífico – o proprietário chamava-se sr. Huck que insinuava possuir muita influência política e econômica - na qual pessoas muito ricas pagavam para viver um sonho impossível e sempre terminavam este passeio sem concluir o desejo, mas partiam satisfeitos com as lições de moral recebidas. A transformação deste espaço fictício em local de moradia dos funcionários público representa o sucesso do processo de aculturamento efetivado a partir da indústria cultural estadunidense.

17 – Vejamos os motivos deste sucesso; a cultura colonialista apresenta como verdade a lenda de um país mítico da América do Norte no qual existem oportunidades iguais para todos bastando para acessar a fortuna o esforço individual também conhecido por meritocracia. Neste reino encantado o Estado não intervém na economia, tudo é privado revelando este último ponto a vitória da mão invisível do mercado.

18 – Aculturadas a grande e pequena burguesia do Brasil acreditam na lenda, ajoelham-se diante do altar do destino manifesto divulgando, sem pestanejar, os textos sagrados do Estado não intervencionistas, da meritocracia. Assumem os bilionários um discurso de ordem religiosa amparado na ordem divina do “com o suor do teu rosto comerás o teu pão” naturalmente excluindo, das determinações divinas, a sua classe visto a condição de ócio total decorrendo desta a ausência de suor na hora de fartarem-se de pão, caviar, ostras sempre acompanhadas de vinhos e champanhes com valores de até R$ 4 mil.  

19 – A crença, o aculturamento dos bilionários possui grande apelo em função do controle exercido por uma classe dos meios de comunicação, das editoras – inclusive de livros didáticos - dos financiamentos das campanhas eleitorais e deste a elaboração das leis incluindo aquelas da educação formal em seus diferentes níveis. O representante político da burguesia – neste caso um herdeiro de Minas Gerais que nunca comeu o pão com suor do próprio rosto – ao citar uma ilha imaginária de uma antiga série de televisão apenas reforça a lenda utilizada, culturalmente, como base para submissão do Brasil aos interesses do império.

20- A lenda da não intervenção do Estado na economia estadunidense é, como toda crendice, facilmente contestada quando verifica-se a organização econômica daquele país dependente, em grande escala, das encomendas oficiais notadamente no setor armamentista representando o Departamento de Defesa o maior empregador individual do mundo com pelo menos 3,2 milhões de funcionários públicos. Este mesmo setor estatal é responsável pelo maior consumo interno de energia – petróleo e eletricidade – garantindo, inclusive nestes tempos de crise, a sobrevivência de outros tantos empregos no setor petrolífero nacional.

21 – As grandes empresas de tecnologia estadunidenses movimentam recursos financeiros gigantescos incluindo a pesquisa e inovação sempre financiadas com recursos públicos notadamente aqueles destinados à guerra assumindo o Estado, inclusive, a condição de autorizar e selecionar quais países e empresas podem comprar estas mesmas tecnologias.

22 – Ao propor o afastamento do Estado, condenar o planejamento econômico, assumir a política de privatização a burguesia brasileira, através de seus representantes políticos, simplesmente impede a criação de qualquer política de desenvolvimento nacional criando neste ponto os impedimentos ao acesso à educação, saúde, assistência social, emprego, segurança garantidos na ainda vigente Constituição de 1988.

23 – A superação da cultura colonialista constitui o primeiro passo no sentido de superar o atraso nacional, a pobreza, o desemprego necessitando para a sua efetivação uma critica profunda a forma de representação política, do acesso a informação da organização das representações sindicais e entendimento do conceito de educação ainda hoje, em função da submissão ao imperialismo, resumido a sua forma restrita de escolarização em tempos e espaços reduzidos.


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Programa Escuta Educativa da Rádio Educare.47 do Instituto de Educação de Minas Gerais

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