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A MISÉRIA AUMENTANDO O LUCRO DOS BILIONÁRIOS
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CULTURA IMPORTADA E DOMINAÇÃO COLONIAL
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A ILHA DA FANTASIA; UM HABITAT IMAGINÁRIO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
Por
Wladmir Coelho
1 – O sonho de parcela considerável
da pequena burguesia brasileira é acumular a maior quantidade possível de
dinheiro e comprar uma daquelas mansões de gesso e papelão em Orlando sempre em
nome da “qualidade de vida” decorrente, segundo a crença predominante entre os
novos ricos, da condição de superioridade cultural dos moradores daquela cidade
e por extensão do país.
2 – Enquanto a pequena
burguesia brasileira sonha os poucos membros da burguesia propriamente dita,
faz muito tempo, transferiram suas
residências e contas bancárias para diferentes paraísos – notadamente os
fiscais – incluindo os pontos mais elegantes de Nova Iorque, Paris, Londres e outros
centros econômicos naturalmente ocupando residências mais sólidas nas quais
trocar uma lâmpada ou ligar a tomada do ar condicionado não implique em risco
de morrer, aliás, estes sequer sabem onde fica a tomada do mencionado aparelho
– neste caso um sistema de refrigeração e aquecimento operado por computador - existindo para o atendimento imediato, deste e
outros terríveis problemas domésticos,
um exército de empregados todos com salários associados aos gastos da empresa
sediada no Brasil implicando esta singela manobra fiscal em espécie de tributo
a ser pago por todos os trabalhadores do auriverde torrão.
3 – Apenas para ilustrar;
o jornal Valor Econômico apresentou a lista dos 10 homens mais ricos do Brasil
e aqui aponto os 4 primeiros; Jorge Paulo Lemann, Joseph Safra, Marcel Herrmann
Telles, Eduardo Saverin. Destes o primeiro e o quarto vivem no exterior, o
segundo apresenta formação inglesa – inclusive colegial – enquanto o terceiro é
subordinado ao mais rico de todos. As maiores fortunas encontram-se, conforme é
possível observar, associadas umas com as outras através do controle e
participação em fundos de investimentos possibilitando a presença do bilionário
X na corporação de seu homologo Y possuindo, deste modo, interesses comuns aqui
e no exterior.
4 – Veja bem; a burguesia
de um país com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados considera normal
viver em outro continente educando os seus filhos em escolas e universidades
destinadas aos muito ricos assimilando estes a forma de pensar e agir imperial entendendo
como natural a base colonial da economia nacional. Esta mesma burguesia, cujo contato
com o Brasil efetiva-se nos períodos de férias, controla bancos, o que sobrou
da indústria, mineradoras, comunicação organizando, conforme os seus
interesses, a economia incluindo os salários, direitos trabalhistas, o tamanho
e alcance das políticas educacionais, de saúde e segurança.
5 – O rompimento com este
modelo de organização encontra-se associado de forma evidente a superação da
cultura de colonização cujo resultado é a naturalização do atraso nacional
associado, em função da cultura de colonização, ora a questões raciais, ao clima,
a corrupção, ao comunismo sempre ocultando o fator exploração em decorrência da
submissão e integração ao imperialismo.
6 – A legitimação da
cultura de colonização ocorre de forma sutil através dos meios de comunicação,
da escola, da atuação dos governos, da forma de organização do trabalho
constituindo o seu rompimento uma atividade complexa existindo, neste sentido, em
nossa história, exemplos de pequenos avanços e grandes retrocessos.
7 – Em termos gerais o
grande senhor de terras escravista, o minerador proprietário de escravos e
mesmo a classe igualmente parasitária de exportadores de produtos primários
sobrevivem em nossos dias graças a preservação das relações de base colonial
tenham origem em Lisboa, Londres ou Nova Iorque representando estas cidades os
distintos modelos de administração e organização política do Brasil.
8 – A educação escolar
brasileira, notadamente o ensino da história, pouco ou nada preocupou-se em
entender a relação entre o atraso nacional e preservação do modelo econômico de
base colonial preferindo identificar, datar os períodos criando uma colcha de
retalhos com fotografias, textos incompletos e questionamentos superficiais
agora no período pandêmico este quadro aprofunda-se através do retorno ao
modelo tecnicista com perguntas e respostas a partir de textos limitados uma
atividade entediante para alunos e professores.
9 – Os meios de
comunicação, controlados pelos descendentes diretos ou adotivos daqueles
antigos senhores de terras, em nome do lucro fácil, pagam royalties à indústria
cultural dos Estados Unidos a ponto de gerações inteiras de brasileiros
conhecerem e acreditarem na história mítica daquele país com seus heróis
moralistas e sua defesa de uma tal liberdade sempre associada a determinação de
um povo escolhido de Deus, mas pronto para impor o seu poder de forma nada sobrenatural
utilizando, para este fim, os elementos profanos conhecidos por dinheiro e canhão.
10 – Esta assimilação
cultural chegou e foi instalada de forma quase imperceptível graças a condição de subordinação de nossa burguesia
interessada em mostrar-se superior aos trabalhadores apresentando, esta dita
elite, a negação ou entendimento de nossa formação como inferior entendendo
como parâmetro o estágio final dos países centrais desconsiderando o processo
histórico incluindo a subordinação nacional como forma de contribuição colonial
ao crescimento e desenvolvimento daqueles países cultuados como superiores.
11 – Em termos práticos podemos observar de forma nítida
a submissão da burguesia brasileira,
através de seus representantes políticos, participando, na embaixada dos Estados Unidos, das comemorações
oficiais do dia da independência daquele país, mas condenando histericamente
qualquer menção aos movimentos revolucionários da América Latina, da África ou
da Ásia afinal estes representam o rompimento com o modelo imperialista daquele
e por isso recebem a condenação e o rótulo de movimentos não democráticos.
Democracia, neste caso, entendida em sua concepção mística e mítica na qual
prevalece a vontade do imperialismo.
12 – Os representantes
políticos da burguesia auriverde conseguem inverter até o conceito de
patriotismo neste caso associado a defesa dos interesses estrangeiros
representados na destruição dos instrumentos construídos, naqueles momentos de
pequenos avanços, para a modernização da economia brasileira em benefício,
vejam só, da burguesia. Preferem, os nossos ricos e seus representantes, uma
subordinação ou integração plena ao imperialismo estes representantes políticos
retomaram, com ferocidade superior aos anos 1990, a entrega da Petrobras, Banco
do Brasil, Eletrobras, privatização da educação, limitação da pesquisa aos
interesses do capital externo dificultando qualquer atitude de intervenção do
Estado no sentido de superar o modelo econômico de base colonial mesmo que esta
venha a partir dos interesses da burguesia como registrado em outros momentos
históricos.
13 – Uma economia subordinada
ao imperialismo implica em transformar um país soberano em tributário ao
império e neste momento de crise profunda, acelerada a partir da pandemia da
COVID-19, os ricos da matriz exigem fundos para a cobertura de suas dividas instituindo
uma neoderrama exigindo de suas filiais aumento nos lucros as custas da redução
dos salários e empregos somado ao acesso à mercados antes limitados como o caso
da educação básica alvo, inclusive, daquele mais rico da lista do jornal Valor
Econômico. O desemprego, os salários baixos, os atrasos nos pagamentos dos
servidores públicos acabam por garantir o aumento das fortunas – os jornais
mostram que aqueles senhores da lista citada neste artigo lucraram US$ 34 bi,
assim mesmo com B de BILHÃO, enquanto os trabalhadores imploram pela manutenção
de R$ 600,00.
14 – Enquanto os bilionários
aumentam suas remessas ao exterior o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) revela a existência, até a primeira quinzena de junho, de
1,3 milhão de falências predominando, neste contexto, aquelas empresas de
pequeno porte com até 49 funcionários, ou seja, a pequena burguesia brasileira
segue ladeira abaixo e mesmo assim, mergulhada na cultura colonialista, prefere
apoiar as medidas de manutenção do modelo decadente.
15 - O sonho da pequena burguesia de morar em
Orlando vai ficando mais e mais distante, as prestações atrasadas do
apartamento com varanda gourmet, da pick-up, do colégio acumulam-se dia após
dia e seguem os iludidos acreditando na salvação a partir da destruição dos
direitos sociais e privatização de tudo, em resumo, não entendem a necessidade
de rompimento com o imperialismo preferindo embarcar no discurso cínico e
falimentar de seus representantes atacando os servidores públicos acusados de
privilegiados e viverem na “Ilha da Fantasia”.
16 – Neste ponto, o
habitat imaginário dos funcionários públicos, precisamos de alguns
esclarecimentos; “A Ilha da Fantasia” foi o título de um seriado estadunidense,
do final dos anos 1970, apresentado inicialmente na Rede Globo. Os episódios desenvolviam-se
em uma ilha particular no Oceano Pacífico – o proprietário chamava-se sr. Huck
que insinuava possuir muita influência política e econômica - na qual pessoas
muito ricas pagavam para viver um sonho impossível e sempre terminavam este
passeio sem concluir o desejo, mas partiam satisfeitos com as lições de moral
recebidas. A transformação deste espaço fictício em local de moradia dos
funcionários público representa o sucesso do processo de aculturamento
efetivado a partir da indústria cultural estadunidense.
17 – Vejamos os motivos
deste sucesso; a cultura colonialista apresenta como verdade a lenda de um país
mítico da América do Norte no qual existem oportunidades iguais para todos bastando
para acessar a fortuna o esforço individual também conhecido por meritocracia.
Neste reino encantado o Estado não intervém na economia, tudo é privado revelando
este último ponto a vitória da mão invisível do mercado.
18 – Aculturadas a grande
e pequena burguesia do Brasil acreditam na lenda, ajoelham-se diante do altar
do destino manifesto divulgando, sem pestanejar, os textos sagrados do Estado
não intervencionistas, da meritocracia. Assumem os bilionários um discurso de
ordem religiosa amparado na ordem divina do “com o suor do teu rosto comerás o
teu pão” naturalmente excluindo, das determinações divinas, a sua classe visto
a condição de ócio total decorrendo desta a ausência de suor na hora de
fartarem-se de pão, caviar, ostras sempre acompanhadas de vinhos e champanhes
com valores de até R$ 4 mil.
19 – A crença, o
aculturamento dos bilionários possui grande apelo em função do controle
exercido por uma classe dos meios de comunicação, das editoras – inclusive de
livros didáticos - dos financiamentos das campanhas eleitorais e deste a
elaboração das leis incluindo aquelas da educação formal em seus diferentes
níveis. O representante político da burguesia – neste caso um herdeiro de Minas
Gerais que nunca comeu o pão com suor do próprio rosto – ao citar uma ilha imaginária
de uma antiga série de televisão apenas reforça a lenda utilizada,
culturalmente, como base para submissão do Brasil aos interesses do império.
20- A lenda da não intervenção
do Estado na economia estadunidense é, como toda crendice, facilmente contestada
quando verifica-se a organização econômica daquele país dependente, em grande
escala, das encomendas oficiais notadamente no setor armamentista representando
o Departamento de Defesa o maior empregador individual do mundo com pelo menos
3,2 milhões de funcionários públicos. Este mesmo setor estatal é responsável
pelo maior consumo interno de energia – petróleo e eletricidade – garantindo,
inclusive nestes tempos de crise, a sobrevivência de outros tantos empregos no
setor petrolífero nacional.
21 – As grandes empresas
de tecnologia estadunidenses movimentam recursos financeiros gigantescos incluindo
a pesquisa e inovação sempre financiadas com recursos públicos notadamente aqueles
destinados à guerra assumindo o Estado, inclusive, a condição de autorizar e selecionar
quais países e empresas podem comprar estas mesmas tecnologias.
22 – Ao propor o
afastamento do Estado, condenar o planejamento econômico, assumir a política de
privatização a burguesia brasileira, através de seus representantes políticos,
simplesmente impede a criação de qualquer política de desenvolvimento nacional criando
neste ponto os impedimentos ao acesso à educação, saúde, assistência social, emprego,
segurança garantidos na ainda vigente Constituição de 1988.
23 – A superação da cultura
colonialista constitui o primeiro passo no sentido de superar o atraso nacional,
a pobreza, o desemprego necessitando para a sua efetivação uma critica profunda
a forma de representação política, do acesso a informação da organização das
representações sindicais e entendimento do conceito de educação ainda hoje, em
função da submissão ao imperialismo, resumido a sua forma restrita de
escolarização em tempos e espaços reduzidos.
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