GOLPE DE ESTADO E
HOLLYWOOD
SETE DIAS DE MAIO: COMO A
CRÍTICA PODE REVELAR O APOIO AO SISTEMA
Por Wladmir Coelho
1 – O cinema estadunidense
constitui um importante segmento da indústria cultural reconhecidamente aproveitado
como instrumento de aculturamento e não são poucos os exemplos da transformação
de inocentes, adocicados, patrióticos filmes em panfletos políticos voltados a
imposição de modelos econômicos e políticos notadamente a respeito do conceito
de democracia e direitos humanos.
2 – A Agência Central de Inteligência, os serviços
secretos das forças armadas dos Estados Unidos, o FBI possuem departamentos
específicos para o contato com Hollywood e destes o financiamento das produções
seguindo estas, naturalmente, os interesses dominantes do imperialismo.
3 – Apenas para recordar:
aqueles com mais de 50 anos cresceram assistindo Zorro, Daniel Boone, Viagem ao
Fundo do Mar e outros enlatados todos voltados à sacralização da crença no
Destino Manifesto.
4 – Existe ainda o outro
lado, ou seja, quando Hollywood revela uma critica ao modelo estadunidense de
política, economia e mesmo dominação imperialista. Existe mesmo? Afinal como um
filme orçado em milhões de dólares voltado aos mercados interno e mundial vai
conseguir financiamento colocando-se fora do padrão? O segredo está na arte de
elaborar uma crítica em apoio ao modelo.
5 – Antes de continuar
vamos observar o seguinte: não faço aqui referências a eventual existência do
cinema alternativo estadunidense – alternativo, vamos falar a verdade, um termo
amplíssimo – falo de Hollywood e seus elevados custos, dos investimentos
financeiros e políticos envolvidos.
6 – Para ilustrar a intervenção
do poder econômico e político em Hollywood vou aproveitar um tema atual; o
golpe de Estado. Os Estados Unidos, como sabemos, apresentam-se como exemplo de
solidez democrática uma espécie de país encantado onde não existem lutas de
classe e as divergências políticas são tratadas no Congresso e resolvidas em eleições
livres.
7 – Esta condição de
encantamento dos EUA desaba quando analisamos atentamente a sua história e
verificamos os meios utilizados para garantir os resultados das eleições com
eliminação daqueles eleitores inconvenientes aos grupos dominantes representem
estes excluídos grupos étnicos, raciais, sociais.
8 – O recurso ao golpe de
Estado também faz parte da história política dos Estados Unidos e não ficam
resumidos ao carnaval de Trump no Capitólio, existem assassinatos, renuncias e militares
golpistas. Kennedy, quem sabe, seria o exemplo mais recente, mas antes dele
Roosevelt também foi vítima de uma tentativa violenta para colocar fim ao seu
governo.
9 – A organização de um
golpe contra Franklin Delano Roosevelt ocorreu em 1933 envolvendo a nata dos
capitalistas estadunidenses, militares de alta patente, setores da imprensa um
grupo muito bem organizado e poderoso. Os motivos: Roosevelt caminhava para a
implantação de um rígido controle estatal da economia organizando os setores
produtivos em “sindicatos” determinando desde a quantidade a ser produzida, a
forma de distribuição além dos valores salariais. Possivelmente o fato “sindicato”
não assustasse muito os capitalistas, afinal vivíamos em plena era da
concentração, da eliminação da concorrência o problema encontrava-se nas compensações
anunciadas aos trabalhadores resultando esta em necessária ampliação na
cobrança de impostos dos capitalistas e consequente redução da margem de lucro.
10 – O golpe contra
Roosevelt foi derrotado e seus participantes receberam uma espécie de anistia
aquela do esquecimento, afinal eram todos muito poderosos e possuíam seus
governadores, senadores e generais de estimação. A Segunda Guerra Mundial e as
relações comerciais dos EUA com a Alemanha nazista colocaram em evidência os
antigos golpistas: resistiam os banqueiros, a indústria automobilística e
petrolífera – sempre o petróleo! – em suspender as relações comerciais e depois
da proibição continuaram contrabandeando combustíveis e outros produtos.
11 – Voltando ao cinema: Hollywood
aproveitou parte deste enredo golpista realizando em 1964 – que ano! – o filme
Sete dias de Maio. Dirigido por John Frankenheimer que reuniu um elenco com
nomes de peso da época: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Ava Gardner e outros. A
trama desenvolvia-se a partir da organização de um golpe militar liderado pelo
chefe do Estado Maior das Forças Armadas o general James Scott – interpretado
por Burt Lancaster – contando este com o apoio dos demais comandantes e segmentos
“conservadores” do senado. A trama dos generais Scott é descoberta pelo coronel
Martin Casey – Kirk Douglas – que revela ao presidente Jordan
Lyman - Frederic March -. O resultado do ato do coronel Casey não será
diferente daquele de 1933 com Roosevelt.
12 – Sete dias de Maio foi
filmando em plena Guerra Fria ainda com
a tinta fresca do Macarthismo, pouco tempo após a crise dos misseis com Cuba e
no ano seguinte ao assassinato de John Kennedy. Sem falar que foi o ano do
golpe, com total apoio e financiamento dos EUA, contra João Goulart no Brasil e
deste a derrubada de governos nacionalistas em todo o continente.
13 – O termo golpe de
Estado – em nossos dias – circula no ar e não é exclusividade do Brasil e no
Sete dias de Maio aparece até de forma ingênua revelando um presidente – pacifista
– que após assinar um acordo com a União Soviética torna-se alvo do militarismo
estadunidense. O problema está neste ponto: o sistema eleitoral estadunidense é
diretamente controlado pelo capital e deste o setor armamentista financia democratas
e republicanos – os dois únicos partidos com chance de vitória eleitoral –
tornando necessário para eleição de um presidente pacifista uma mudança radical
no sistema eleitoral dos Estados Unidos.
14 – O filme, ao
contrário, até exalta o modelo eleitoral em diferentes momentos notadamente no
final quando em discurso à imprensa o presidente Jordan Lyman reafirma a vitória
da Constituição. Vejamos neste ponto outra ingenuidade: o golpe é organizado
exclusivamente por militares e políticos sem a participação do capital a não
ser por uma insinuação – insinuação mesmo – da adesão do oligopólio da comunicação.
15 – Sete dias de Maio representa
a crítica a favor, pela superioridade do modelo democrático estadunidense e
Hollywood faz isso muito bem vendendo ao planeta a ideologia, a crença no
Destino Manifesto.
Nota: Sete dias de Maio
pode ser assistido gratuitamente no Youtube e o link é este: https://www.youtube.com/watch?v=XD2PR1djaXU
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