sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

GOLPE DE ESTADO E HOLLYWOOD

 


GOLPE DE ESTADO E HOLLYWOOD

SETE DIAS DE MAIO: COMO A CRÍTICA PODE REVELAR O APOIO AO SISTEMA

Por Wladmir Coelho

1 – O cinema estadunidense constitui um importante segmento da indústria cultural reconhecidamente aproveitado como instrumento de aculturamento e não são poucos os exemplos da transformação de inocentes, adocicados, patrióticos filmes em panfletos políticos voltados a imposição de modelos econômicos e políticos notadamente a respeito do conceito de democracia e direitos humanos.

2 –  A Agência Central de Inteligência, os serviços secretos das forças armadas dos Estados Unidos, o FBI possuem departamentos específicos para o contato com Hollywood e destes o financiamento das produções seguindo estas, naturalmente, os interesses dominantes do imperialismo.

3 – Apenas para recordar: aqueles com mais de 50 anos cresceram assistindo Zorro, Daniel Boone, Viagem ao Fundo do Mar e outros enlatados todos voltados à sacralização da crença no Destino Manifesto.

4 – Existe ainda o outro lado, ou seja, quando Hollywood revela uma critica ao modelo estadunidense de política, economia e mesmo dominação imperialista. Existe mesmo? Afinal como um filme orçado em milhões de dólares voltado aos mercados interno e mundial vai conseguir financiamento colocando-se fora do padrão? O segredo está na arte de elaborar uma crítica em apoio ao modelo.

5 – Antes de continuar vamos observar o seguinte: não faço aqui referências a eventual existência do cinema alternativo estadunidense – alternativo, vamos falar a verdade, um termo amplíssimo – falo de Hollywood e seus elevados custos, dos investimentos financeiros e políticos envolvidos.

6 – Para ilustrar a intervenção do poder econômico e político em Hollywood vou aproveitar um tema atual; o golpe de Estado. Os Estados Unidos, como sabemos, apresentam-se como exemplo de solidez democrática uma espécie de país encantado onde não existem lutas de classe e as divergências políticas são tratadas no Congresso e resolvidas em eleições livres.

7 – Esta condição de encantamento dos EUA desaba quando analisamos atentamente a sua história e verificamos os meios utilizados para garantir os resultados das eleições com eliminação daqueles eleitores inconvenientes aos grupos dominantes representem estes excluídos grupos étnicos, raciais, sociais.

8 – O recurso ao golpe de Estado também faz parte da história política dos Estados Unidos e não ficam resumidos ao carnaval de Trump no Capitólio, existem assassinatos, renuncias e militares golpistas. Kennedy, quem sabe, seria o exemplo mais recente, mas antes dele Roosevelt também foi vítima de uma tentativa violenta para colocar fim ao seu governo.   

9 – A organização de um golpe contra Franklin Delano Roosevelt ocorreu em 1933 envolvendo a nata dos capitalistas estadunidenses, militares de alta patente, setores da imprensa um grupo muito bem organizado e poderoso. Os motivos: Roosevelt caminhava para a implantação de um rígido controle estatal da economia organizando os setores produtivos em “sindicatos” determinando desde a quantidade a ser produzida, a forma de distribuição além dos valores salariais. Possivelmente o fato “sindicato” não assustasse muito os capitalistas, afinal vivíamos em plena era da concentração, da eliminação da concorrência o problema encontrava-se nas compensações anunciadas aos trabalhadores resultando esta em necessária ampliação na cobrança de impostos dos capitalistas e consequente redução da margem de lucro.  

10 – O golpe contra Roosevelt foi derrotado e seus participantes receberam uma espécie de anistia aquela do esquecimento, afinal eram todos muito poderosos e possuíam seus governadores, senadores e generais de estimação. A Segunda Guerra Mundial e as relações comerciais dos EUA com a Alemanha nazista colocaram em evidência os antigos golpistas: resistiam os banqueiros, a indústria automobilística e petrolífera – sempre o petróleo! – em suspender as relações comerciais e depois da proibição continuaram contrabandeando combustíveis e outros produtos.

11 – Voltando ao cinema: Hollywood aproveitou parte deste enredo golpista realizando em 1964 – que ano! – o filme Sete dias de Maio. Dirigido por John Frankenheimer que reuniu um elenco com nomes de peso da época: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Ava Gardner e outros. A trama desenvolvia-se a partir da organização de um golpe militar liderado pelo chefe do Estado Maior das Forças Armadas o general James Scott – interpretado por Burt Lancaster – contando este com o apoio dos demais comandantes e segmentos “conservadores” do senado. A trama dos generais Scott é descoberta pelo coronel Martin Casey – Kirk Douglas – que revela ao presidente Jordan Lyman - Frederic March -. O resultado do ato do coronel Casey não será diferente daquele de 1933 com Roosevelt.

12 – Sete dias de Maio foi filmando em plena Guerra Fria  ainda com a tinta fresca do Macarthismo, pouco tempo após a crise dos misseis com Cuba e no ano seguinte ao assassinato de John Kennedy. Sem falar que foi o ano do golpe, com total apoio e financiamento dos EUA, contra João Goulart no Brasil e deste a derrubada de governos nacionalistas em todo o continente.

13 – O termo golpe de Estado – em nossos dias – circula no ar e não é exclusividade do Brasil e no Sete dias de Maio aparece até de forma ingênua revelando um presidente – pacifista – que após assinar um acordo com a União Soviética torna-se alvo do militarismo estadunidense. O problema está neste ponto: o sistema eleitoral estadunidense é diretamente controlado pelo capital e deste o setor armamentista financia democratas e republicanos – os dois únicos partidos com chance de vitória eleitoral – tornando necessário para eleição de um presidente pacifista uma mudança radical no sistema eleitoral dos Estados Unidos.

14 – O filme, ao contrário, até exalta o modelo eleitoral em diferentes momentos notadamente no final quando em discurso à imprensa o presidente Jordan Lyman reafirma a vitória da Constituição. Vejamos neste ponto outra ingenuidade: o golpe é organizado exclusivamente por militares e políticos sem a participação do capital a não ser por uma insinuação – insinuação mesmo – da adesão do oligopólio da comunicação.

15 – Sete dias de Maio representa a crítica a favor, pela superioridade do modelo democrático estadunidense e Hollywood faz isso muito bem vendendo ao planeta a ideologia, a crença no Destino Manifesto.

Nota: Sete dias de Maio pode ser assistido gratuitamente no Youtube e o link é este:  https://www.youtube.com/watch?v=XD2PR1djaXU


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Programa Escuta Educativa da Rádio Educare.47 do Instituto de Educação de Minas Gerais

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