BANCO
CENTRAL INDEPENDENTE É DEPENDENTE
TOTAL
DOS BANQUEIROS
Por Wladmir Coelho
1 – O jornal Valor
Econômico desta segunda-feira, 13 de fevereiro, apresenta alguns destaques
diretamente relacionados aos interesses dos banqueiros e fundos de
investimentos e destes a política de juros do Banco Central independente. Vejamos:
“após Americanas ‘efeito dominó’ preocupa mercado”. Esta afirmativa mereceu a
primeira página, mas no interior do Valor vamos encontrar outras duas: “economia
fraca pressiona números do 4º trimestre” e “dona da Ortopé entra em recuperação
judicial.” Esta última revelando problemas no setor industrial dos calçados
diretamente relacionado as grandes redes de varejo.
2 – No material relativo
ao “efeito dominó” das Americanas a reportagem do Valor realiza comparações do
caso com as redes Marisa, Ricardo Eletro somados as livrarias Cultura e
Saraiva. A mesma reportagem apresenta – com ar de mistério – a intenção de “duas
empresas ligadas ao comércio digital, da última leva de abertura de capital, em
2021” solicitarem recuperação extrajudicial.
3 – Para entender melhor
o material em questão temos a Marisa tentando renegociar a dívida de R$ 300 milhões,
a Cultura falida enquanto a Saraiva permanece em recuperação judicial. A
Ricardo Eletro, por sua vez, conseguiu reverter a falência retornando ao status
de recuperação judicial. Neste caso devemos
recordar a condição provisória da reversão aguardando, os interessados, o
julgamento. O caso das Americanas é amplamente conhecido e não vou aprofundar
neste parágrafo, contudo chamo a atenção para os fatos corrupção e roubalheira
tradicionalmente atribuídos ao Estado e agora verificados como prática comum no
setor privado.
4 - Como elo de ligação entre as empresas citadas
o Valor cita a dependência destas dos empréstimos bancários para a famosa “alavancagem”
que diante da elevação dos juros – regulamentados – os comentaristas preferem o
termo regulado - pelo Banco Central independente - provocaram um aumento nas despesas financeiras
de 176% entre 2021 e 2022.
5 – Desta forma não há
taxa de lucro que aguente e dá-lhe reestruturação das empresas com demissões,
fechamento de lojas e falsificação de balanços. Este expediente, em termos
práticos, visa salvar a dinâmica dos tempos de crise do capitalismo através do
chamado capital fictício registrado como real nos livros de contabilidade proporcionando
lucros aos especuladores de Wall Street através do pagamento de dividendos –
sem lucro contábil isso não existe.
6 - Os juros elevados
surgem, inclusive, para transformar o
Estado em fiador de um sistema econômico amparado na farsa através do recurso dos títulos da dívida controlados
pelos banqueiros através de seu sindicato denominado Banco Central. Desta forma
eventuais quebradeiras encontram nos cofres públicos um alívio para os
banqueiros mantendo segura a taxa de lucro. O dinheiro do povo em vez de encontrar
sua realização nas escolas, saúde, transporte ou financiar a produção acaba servindo
para sustentar um modelo injusto voltado aos interesses dos grandes senhores do
capital ampliando as perdas internacionais.
7 - Em resumo; para
garantir os lucros estratosféricos os bancos exigem, além das garantias das empresas,
o Estado como fiador de uma cadeia de exploração envolvendo as frases sagradas
diariamente repetidas pelos famosos comentaristas econômicos: “ajuste fiscal”, “corte
de gastos”, “teto de gastos”.
8 – O curioso é observar os
bancos a assumirem publicamente a condição de elementos do atraso econômico.
Vejamos um detalhe importante observado na matéria do mesmo Valor: “economia
fraca pressiona números do 4º trimestre.” Neste ponto temos o banco
multinacional Santander – aquele que cresceu com apoio direto da ditatura
fascista do generalíssimo Franco – prevendo queda nos lucros das empresas sob
sua cobertura de “14,3% na comparação anual, pressionadas pela alta nos
juros [grifos nossos] e desaceleração econômica no Brasil durante os três
meses finais do ano.” Os três maiores bancos privados no Brasil – o Santander é
o 3º - viram seus ganhos reduzirem em 7,3% resultando em lucro de apenas R$
64,3 bilhões em 2022. Saibam todos: o rotativo do cartão de crédito, os juros estratosféricos
cobrados nos empréstimos utilizados para cobrir os salários insuficientes, os empréstimos
consignados transformam o nosso povo em parcela escravizada dos banqueiros.
Temos ainda os famosos cortes de gastos públicos como forma de garantir o
Estado como fiador das elevadas taxas de juros conforme explicamos anteriormente.
8 – Por fim a indústria da
moda e calçados simbolizados no caso Ortopé. Esta empresa simplesmente fraudou operações
com o setor das grandes varejistas como Riachuelo e C&A e Rener criando
duplicatas frias para, conforme o Valor, “operar antecipação de recebíveis com
notas fiscais dessas operações inexistentes.” A Ortopé, igualzinho as Americanas,
presta conta aos famosos fundos de investimentos e estes precisam apresentar
aos associados lucros em todos os investimentos e pagar elevados dividendos
constituindo um elemento importante para o famoso capital fictício necessitado,
este, de um ponto de apoio real, verdadeiro. A Ortopé faz parte do setor
industrial e sua recuperação judicial revela um aumento dos problemas econômicos
e aqui voltamos ao ponto inicial, ou seja, o efeito dominó previsto na manchete
do Valor, embora amenizado ao longo da reportagem.
9 – O debate a respeito
do controle da política financeira, econômica, como podemos observar, vai além
do discurso tecnocrático da existência de um Banco Central independente elevado
na imprensa comercial à condição de divindade
e passa necessariamente pela superação do Estado como espécie de fiador de um sistema
apoiado na fantasia contábil e das práticas de corrupção no setor privado. Ao
Estado, notadamente em um país dependente da exportação de comodities como o Brasil,
é necessário o controle dos setores econômicos estratégicos – petróleo,
energia, mineração – caso exista interesse na superação de um modelo atrasado.
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